As alergias alimentares se caracterizam por uma reação do sistema imunológico após a ingestão de determinado alimento. O problema pode atingir qualquer pessoa em qualquer idade, mas são mais preocupantes em crianças, pela falta de comunicação do paciente. Para se ter uma ideia, a Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI), estima que 6 a 8% das crianças do mundo sofram com algum tipo de alergia. No Brasil, as mais conhecidas são a intolerância ao glúten e a proteína do leite de vaca (APLV).
Também conhecida por doença celíaca, a intolerância ao glúten é uma reação imunológica quando se ingere a proteína encontrada no trigo, cevada ou centeio.
Segundo o Conselho Nacional de Saúde, ela afeta em torno de 2 milhões de crianças no Brasil, mas, infelizmente, o número pode ser maior, devido à falta de diagnósticos precisos.
Essa condição aparece quando se consome algum produto que contenha a proteína do leite de vaca. Nos bebês, pode aparecer após comer ou beber produtos que a contenham, causando uma reação alérgica do sistema imunológico. A Sociedade Europeia de Gastroenterologia, Hepatologia e Nutrição Pediátrica revela que 1 a 17% das crianças menores de 3 anos possuem sintomas sugestivos de APLV. E mais: 2 a 3% das crianças menores de 3 anos já são diagnosticadas com esta alergia.
A grande diferença entre a doença celíaca e o APLV é que, com o passar do tempo e a alimentação correta, a criança que tem APLV pode voltar a consumir a proteína do leite. Já a doença celíaca não há regressão.
Quando uma criança é acometida por alguma dessas condições, a mãe acaba se desdobrando para garantir que cheguem produtos de qualidade para o consumo seguro de seus filhos.
Isso Talita Knupp Souza sabe bem. Ela é casada com Saul Pereira. A professora e o motorista de caminhão são pais da Tainá Souza, uma menina que veio ao mundo já pronta para lutar.
A pequena nos seus primeiros 9 dias de vida chorava desesperadamente. Dormia pouco mais de 1 hora e não conseguia se alimentar muito bem. A cada quilo que a menina perdia, a mãe aumentava toneladas de desespero.
Alguns médicos diziam que eram apenas as cólicas naturais dos primeiros meses de vida. Outros insinuaram que a mãe de primeira viagem não estava pronta para realizar sua função materna com maestria. “Cansei de chegar na emergência e ficar 4 horas esperando para me dizerem que a minha filha estava muito agasalhada, que estava deixando ela passar fome ou até que meu leite não prestava”, exemplifica Talita.
Com a situação da pequena piorando e Talita em busca de uma solução, a sua rede de apoio foi de suma importância no rumo de um diagnóstico definitivo. Entretanto, o que há de mais seguro se não o colo de uma mãe?
Entre idas e vindas em hospitais, ela encontrou a Dra. Marilza Cubas Ribas. A pediatra cuidou com carinho tanto dos sintomas da filha, quanto do cansaço da mãe, que a essa altura já não podia amamentar pelo pouco leite que produzia. A médica pediu que a menina fosse para uma gastropediatra, onde, finalmente, trouxeram um diagnóstico definitivo após 2 meses de angústia: Tainá tinha alergia à proteína do leite de vaca.
O resultado do exame trouxe alívio para a Talita que não sabia o porquê sua filha chorava tanto desde o nono dia de nascimento. Mas, ao mesmo tempo, ela compreendia que seria uma longa jornada em que ambas, mãe e filha, precisariam atravessar juntas.
Devido ao avançado estado da filha, o recomendado foi ela se alimentar apenas por uma fórmula de aminoácido. A mãe também teve que eliminar da sua alimentação todo produto que continha proteína do leite de vaca, para voltar a alimentar a pequena.
“Depois de 15 dias, a Tainá já estava ganhando peso, dormindo melhor… Era outra criança. Pude, inclusive, voltar a amamentá-la”, relembra Talita.
Tudo parecia ir bem até que chegou a fase da introdução alimentar. Outro drama enfrentado pela dupla.
Ao escolher os produtos no mercado para confeccionar alimentos mais pastosos para a menina, Talita sempre escolhia produtos que diziam não conter leite descrito nos rótulos. Porém, bastava uma pequena porção para Tainá sofrer com as dores novamente.
Qual seria o motivo se no próprio rótulo dizia que não continha leite? Foi aqui que ela e Saul descobriram o maior vilão dos alimentos para pessoas alérgicas.
“A gente começou a perceber que nem sempre o que estava no rótulo era válido. E ali a gente aprendeu o que era contaminação cruzada”, relembra Talita.
Contaminação cruzada é a transferência de organismos que causam doenças de um alimento contaminado, para outros que não estejam contaminados. Ou seja, por mais que um alimento fosse produzido sem leite, ele poderia ter sido fabricado com outros alimentos que continham a proteína. Logo, acabou adquirindo-a também, mesmo que não tenha sido a intenção do fabricante. Um descuido grave como esse, pode gerar uma reação alérgica forte no indivíduo, assim como ocorria com a filha de Talita.
Com o passar dos anos e a restrição completa do leite na infância, Tainá começou a ter contato com produtos que continham a tão temida proteína do leite de vaca e, graças ao apoio médico e a persistência e cuidado de sua mãe, seu organismo já conseguia processar a proteína. Ou seja, depois de um tempo, a menina tornou-se fã de iogurtes e queijos.
Tempos depois, Talita e Saul tiveram o segundo filho, Saul Junior. O menino apresentou os mesmos sintomas da irmã, logo nos primeiros meses de vida. O diagnóstico já era esperado: ele também tinha APLV.
Mais experiente e com o coração certo de sua melhora, Talita procurou a gastropediatra e iniciou rapidamente os tratamentos. Tudo de novo, em prol da qualidade de vida do seu pequeno.
Hoje, ele também pode consumir produtos com leite sem medo de ser feliz!
A história de Talita se soma a tantos outros relatos de mães de crianças alérgicas. Onde, além da presença das alergias, outro ponto delineia todas elas: a solidão da mãe no processo de descobrimento da cura ou melhora da sua cria.
Em sua maioria, as mães relatam a falta de profissionais de saúde qualificados para atender uma criança alérgica, além do baixo apoio da família/amigos neste processo. A restrição alimentar torna-se também uma restrição social. “Às vezes, as pessoas não entendem o todo que vem com uma alergia”, complementa Talita.
Isso sem contar nas empresas que não cumprem protocolos de segurança alimentar e, devido à falta de conhecimento ou de processos, enviam produtos para pessoas alérgicas junto com itens contaminados.
“Não é uma questão de luxo. A pessoa que tem uma alergia, ela tem uma questão de saúde envolvida. Eu acho que deveria ter um olhar sobre isso, de repente na parte fiscal e tributária, para chegar mais barato para o consumidor final”, declara Talita.
Talita e Saul já empreendiam no ramo da alimentação. Começaram com a castanha do Pará, alimento nacional e que tinha um consumo alto entre os brasileiros. Na sequência, incluíram a castanha de caju pelos mesmos motivos.
Nos primeiros anos da empresa, Saul vendia de porta em porta, enquanto Talita organizava a parte fiscal e demais atribuições administrativas. Ambos sempre abertos às novidades do mercado e cientes da qualidade do seu produto.
A empresa foi fundada em 2012. Dois anos depois Tainá nasceu e com ela um novo significado para o empreendimento. Afinal, os pais haviam vivido na pele as consequências de uma fabricação negligente de produtos livres de contaminação.
Somando essa experiência de vida com uma visita da Associação dos Celíacos, o rumo do negócio se transformou. O casal decidiu produzir alimentos sem glúten e/ou sem a proteína do leite de vaca. E, é claro, tiveram que reformular o nome. Eis que surge a Tainá Alimentos, empresa líder em Curitiba na fabricação de produtos naturais.
Eles investiram em um laboratório interno, onde testam todos os produtos que chegam para a presença de glúten ou proteína do leite de vaca. Instalaram protocolos rigorosos com colaboradores para evitar que qualquer contaminação chegasse aos alimentos: todos trocam os uniformes quatro vezes ao dia e não podem entrar na empresa com alimentos que contenham glúten. Tudo isso para se tornarem um fornecedor seguro para as empresas de produtos naturais e, principalmente, terem a certeza que seus produtos podem ser consumidos sem medo por pessoas alérgicas.
No fim das contas, a Tainá Alimentos é a indústria líder no segmento de produtos naturais, graças aos seus testes contínuos e o cuidado com o seu público-alvo. Tudo isso advindo de uma luta enfrentada por mãe e filha, em que buscam garantir a outras mães e filhos uma alimentação saudável, nutritiva e segura. No fundo, aquele ditado judaico estava certo: “Deus não pode estar em todos os lugares e por isso fez as mães”.
Fonte: Gazeta do Povo
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